terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Conselhos Práticos Sobre a Arte de Escrever

1–Escrever, escrever e escrever.

Alguém pode estudar tudo o que quiser, assistir a tantos workshops quanto desejar, mas não há melhor exercício para progredir do que escrever. Nada pode substituí-lo. Só escrevendo poderá analisar suas virtudes e erros, só assim poderá desentranhar seu estilo, só assim aflorará o melhor de você.

2–Temas (o conceito da página vazia).

Enfrentar uma página em branco é um erro, deveríamos ter ideias a ponto de desenvolver. Embora escrever seja também costume e método, é bom que nossa mente esteja sempre em movimento, criando enquanto caminhamos, comemos, isto é, enquanto vivemos devemos provocar nosso interior para depois derramá-lo para fora. Para isso...

a) Observe o mundo, tudo é interessante, tudo tem uma beleza intrínseca. Só devemos acostumar-nos a ter uma mente que o capte.

b) Todo o quotidiano que nos rodeia é susceptível de ser tomado por nós. As pessoas, as situações, as palavras, as cores.

c) E, finalmente, recorde que não há condições. Ser escritor significa ser livre e, portanto, pode investigar, elucubrar, provar tanto quanto queira, nosso único limite é nossa mente.


3–Lutar contra o "eu interior" que não deseja escrever.


Não se martirize pensando que você é o único ao qual custa escrever. A todos (ou a quase todos) nos custa. Para isso, nada melhor que...

a) Sistematizar o trabalho, é a melhor maneira de avançar em todos os nossos projetos criativos. Assim se acostumará a umas rotinas que o ajudarão a escrever como quem conduz, quase sem pensar estará escrevendo em seu computador.

b) Ficar com amigos para ler o escrito. É uma maneira de que exista uma obrigação e isso o ajudará a estabelecer mais seriamente a necessidade de escrever.

c) Premiar-se depois de escrever. É uma maneira magnífica de fazer as coisas. Escolha algo de que goste especialmente.


4–Esquecer-se de revisar constantemente.

Logo terá tempo para isso. Revisar é interromper o processo criativo. Não se ponha a revisar sem motivo. Só o faça quando haja concluído o capítulo ou cena (e nem isso, se sente que tudo fervilha em sua cabeça, não abandone por nada nem por ninguém), ou também quando for iniciar uma nova seção. Nesse caso revisar as páginas anteriores pode ajudá-lo a preparar seu corpo e sua mente para uma nova seção, deixando-o justamente com o ânimo adequado para prosseguir a narração. Abandone simplesmente a revisão enquanto sentir de forma irresistível que a mente se lhe dispara e os dedos buscam o teclado com fruição. Essa é uma sensação maravilhosa.


5–Construir o edifício por partes.

Não queira começar a obra de qualquer jeito. Toda grande obra tem por trás um trabalho importante, gestando os personagens, ligando tramas, preparando conflitos. Estude primeiro as cenas necessárias para desenvolver o argumento geral. Alguns escritores parecem que simplesmente se sentam e começam a escrever, na realidade têm por trás muita experiência, têm tudo pensado em suas cabeças e só devem passá-lo para o papel (e desenvolvê-lo certamente). O melhor é preparar as cenas necessárias (o que ocorre em cada uma delas), ter definidos os personagens e os conflitos, ou seja, ter a estrutura do edifício, só então podemos começar realmente a escrever nossa estória.


6–Não cremos que somos uns gênios nem uns desastres.

Embora também os haja, isso não vai ocorrer, desde logo, conosco, porque podemos e devemos trabalhar para conseguir aquilo que queremos. Necessitamos um pouco de paciência, perseverança, um pouco de gosto, mas tudo isso podemos adquirir. Só há uma coisa a qual não podemos substituir, mas você já a tem, senão não estaria lendo isso: gana de escrever.


7–Não utilizar a escrita para ser mais interessante aos olhos das pessoas.

As pessoas utilizam todo tipo de artimanhas para chamar a atenção dos demais, para se sentirem importantes. Você é livre para utilizar este método para isso, mas há outros muito mais simples e tão bons como este, menos custosos e retorcidos. Mas se o faz por isso e logo resulta que você é um grande escritor, bem-vindo seja!


8–Detalhes reais, nunca personagens reais.

Parece uma contradição e o é. Mas existe uma resposta. Os detalhes não têm personalidade própria, não têm vida, em contrapartida as pessoas sim, e podem variar, distanciando-o de seu personagem e você se encontrará em um dilema, ou pode não tê-lo a mão quando necessite dele ou lhe interesse. É mais simples tomar detalhes daqui e dali e construir seus próprios personagens. Garanto-lhe que em poucas páginas cobrarão vida própria em sua mente e estarão tão vivos como os que vagueiam ao seu redor e tudo isso com uma enorme vantagem: Não o demandarão nos tribunais por utilizar sua imagem!


9–Não dizer que um personagem está triste, mostre-o!

Devem-se dar asas aos leitores para que sejam eles os que imaginam que está ocorrendo. Essa é uma regra básica, nunca diga que emoções têm os personagens, mostre-as através do diálogo, dos gestos, de seu comportamento. O outro seria empobrecer o texto, delimitar a imaginação do leitor.


10–Faça com que as obsessões trabalhem para você.

Todos temos problemas, todos temos obsessões, manias. Uma boa maneira de trabalhar é conseguir que tudo trabalhe a nosso favor. Saiba tirar partido de tudo aquilo que o afeta e verta-o em forma de experiência em sua obra. Sem dúvida que a enriquecerá.


11–Não escrever a obra-prima de nossa vida em primeiro lugar.

Eu disse 10 conselhos? Aqui aplico o segundo conselho. Passo por cima da necessidade de acabar no ponto anterior se creio que vale a pena fazê-lo, tenho razão? Você me dirá isso. Nunca deveria enfrentar o papel (é uma posição incômoda), mas sim tomá-lo como amigo no qual se derramam as confidências, mas, sobretudo, não deve tomar-se como se alguém fosse escrever a oitava maravilha do mundo. Tudo chegará e logo haverá tempo para enfrentar essa obsessão, aplique o conselho 10 e deixe que por enquanto isso o enriqueça e não se delineie nada muito longo, nem muito grande, nem muito importante. Só depois que tenha acabado, tenha-a revisado, valore-a em sua justa medida.


12–Manter-se em forma.

Alimente seu espírito. Dê-lhe de comer (como a seu estômago). Veja-se com os amigos e fale de suas obras e das deles, assista a oficinas literárias, participe de congressos, conferências, reuniões. Em definitivo, enriqueça-se como uma forma a mais de manter e acrescentar uma mente desperta e criativa. Não deixe que o mundo o vença. E, sobretudo, escreva, escreva, e escreva.

N. B.: Traduzido para o português por Helton Cenci a partir do texto em castelhano de autoria de Ricard de la Casa.

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