quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Paris revela Izis, um fotógrafo esquecido

A Câmara de Paris apresenta uma restrospectiva deste emigrante judeu da Lituânia que se tornou amigo de Chagall.

Rosto lindo, perfil nobre, Izis incarne com elegância todo o charme da velha Europa central qui mistura cortesia, virilidade e um certo distanciamento. Este fotógrafo discreto, escondido debaixo do pseudónimo de «Izis», que evocar a deusa egípcia, ou, então, uma mulher, é um homem ponderado quase um monstro sagrado. Com o colarinho fechado quase como um estudante de cabelos brancos, a sobrancelha farfalhuda e o olhar aguçado pela curiosidade, Chagall o ouve no seu atelier do Cais de Anjou, na mais privada ilha Saint-Louis, em 1969.

Seis anos antes, o pintor só autorizou Izis a olhar para ele a trabalhar no seu tecto da Ópera de Paris. E a fotografá-lo, tão pequeno perante a sua grande obra. Uma das duas rotundas desta exposição «Izis» brilha com o vermelho triunfante de Chagall.

Izis, pseudónimo público como um slogan e homem desconhecido. Reporter na revista francesa Paris Match eleito por esse pintor rude e conhecido por nada partilhar. Ambos lá estão para ser revividos como heróis de Cocteau debaixo do domo da sala Saint-Jean da Cãmara de Paris, numa exposição com forte cunho familiar para o grande público devido ao seus toques sinceros.

Como é possível desaparecer, corpo e alma, no barulho da celebridade? É a pergunta do esfinge que esta homenagem sensível e despida coloca a Izis, cujo o livro “Le Paris des rêves”, publicado em 1950, foi reeditado dezasseis vezes e vendido em 170000 exemplares, record que nos deixa pasmados. No entanto quem hoje no mundo da fotografia francesa, nomearia Izis antes de Doisneau, Cartier-Bresson, Lartigue ?

Distante do mundo
«Inconsolável mas alegre.» é com esta frase de « L'Hurluberlu » de Anouilh que o seu filho Manuel Bidermanas, vice-comissário anafado murmura na exposição, descrevendo o seu pai como um: «Homem angustiado, com medo do seu passado, sem dúvida desesperado, mas não amargo, capaz de de ver o que é belo, de ter o humor de palhaço da turma.»

Nascido como Izraël Biderman em 1911 na Lituânia miserável sob controlo russo (o «z» do seu nome é devido a um erro no registo civil), tornou-se Izraëlis Bidermanas com a independência, em 1918, deram-lhe como alcunha o «sonhador» na escola hebraica. E este traço de infância que mais impacta nesta abordagem de um Paris de adopção e melancólico, distante do mundo. Esta propensão à distância poética, é reencontrada nas sua fotografias vagabundas nos cais do rio Sena onde os dorminhocos se enrolam perto das colunas de amarração, como uns feridos ou anões.

Emigrante sem dinheiro em Paris, explorado como clandestino nos laboratórios fotograficos, que o deixam dormir no próprio local, sobrevivente em zona livre na altura em que a sua família lituana é chacinada pelos nazis, Izis é um herói triste à moda de Dickens. A sua inocência é finalmente recompensada. Os seus retratos dos resistentes, francos, nítidos, secretos, têm todos algo de um auto-retrato.

Valérie Duponchelle (lefigaro.fr)
27/01/2010 | Actualização : 11h40

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